Quando somos vítimas de um crime, no início tudo pode parecer irreal.
Sabemos o que aconteceu e, contudo, é difícil de acreditar.
Muitas pessoas sentem uma espécie de vazio emocional e podem não conseguir recordar com detalhe do que aconteceu.
Podemos sentir dificuldade em falar sobre o incidente e em absorver a informação que nos é transmitida.
É também nesta altura que podemos ter reacções fortes como, por exemplo, crises de choro, choque ou raiva para com o indivíduo que praticou o crime.
Contudo, passado algum tempo, tudo parece mais claro e torna-se mais fácil falar sobre o que aconteceu.
Depois de terem sido vítimas de um crime, algumas pessoas pensam constantemente no que aconteceu.
As imagens podem ser tão nítidas e tão intensas que podemos sentir que o crime está a ser cometido outra vez.
Estas lembranças recorrentes, a que chamamos flashbacks, podem ser bastante perturbadoras.
Se o crime foi denunciado à polícia e conduziu à acusação e julgamento do suspeito, pode passar algum tempo entre o crime e o julgamento.
Muitas vítimas de crime sentem-se perturbadas por terem que reviver as memórias do incidente outra vez quando relatam em tribunal o que aconteceu.
Ser vítima de um crime pode fazer-nos sentir ansiosos e vulneráveis.
Muitas vezes as nossas reacções acentuam-se quando revivemos o que aconteceu através de recordações, de flahbacks.
Esta ansiedade pode fazer com que tenhamos maior dificuldade de concentração e nos irritemos com mais facilidade.
Durante um período após a ocorrência do crime, muitas vítimas têm dificuldade em adormecer, ficando deitadas na cama a pensar no que aconteceu e, mesmo depois de adormecerem, não é raro terem pesadelos com o incidente.
É também frequente acordarem várias vezes durante a noite.
Estas perturbações do sono podem ainda fazer com que nos irritemos com mais facilidade.
É comum as vítimas sentirem-se culpadas pelo que aconteceu.
"Porque é que isto aconteceu comigo?" é uma questão colocada por muitas pessoas quando tentam encontrar uma explicação para o crime.
Muitas vezes as vítimas questionam as suas próprias acções de modo a evitarem que algo similar possa acontecer no futuro.
Por exemplo, podem pensar:
"Se eu não tivesse...",
"Se eu tivesse feito outra coisa...",
"Eu deveria ...".
É importante lembrar que a vítima nunca é culpada por ter sido alvo de um crime.
Apenas quem o praticou é responsável pelo crime.
Por vezes as vítimas sentem uma raiva profunda e até ódio para com o indivíduo que praticou o crime.
Isto pode despertar pensamentos de vingança, trazendo à superfície facetas nossas que talvez não reconheçamos.
Obviamente, é importante distinguir entre a fantasia e a acção real, mas também é importante não nos culpabilizarmos por termos estes pensamentos.
Esta é uma reacção completamente normal que, habitualmente, diminui à medida que nos distanciamos daquilo por que passámos.
Não é raro as vítimas de crime negarem ou tentarem reprimir o que aconteceu.
Isto permite-lhes lidar com a perturbação que sentem depois de terem sido alvo de um crime.
E recomeçar a lembrar o que antes "tivemos que esquecer" é um processo exigente, que pode demorar algum tempo.
Muitas vítimas de crime sentem alguma forma de medo.
Podem, por exemplo, ter medo de sair à rua ou de estar sozinhas em casa.
Muitas pessoas têm receio de situações que lhes lembram as circunstâncias do crime.
Também podemos sentir que o nosso sentido básico de segurança foi afectado e podemo-nos sentir mais desconfiados em relação aos outros, o que faz com que não consigamos viver da mesma forma que costumávamos fazer.
Algumas pessoas são afectadas por mudanças de humor.
Num momento sentem-se completamente normais, no seguinte podem ter um acesso de raiva ou de choro.
Estas reacções são absolutamente naturais.
Por vezes, as reacções psicológicas ao crime podem conduzir a perturbações de ordem física, como por exemplo distúrbios na alimentação, dores no peito, tonturas, dores de cabeça, dores nas costas e no pescoço, problemas digestivos, suores, etc.
Por vezes as pessoas próximas da vítima podem culpá-la pelo que aconteceu.
Isto pode dever-se ao receio que sentem por alguém que lhes é próximo ter sido vítima de um crime, uma vez que tal lhes faz pensar que podiam ter sido elas.
Infelizmente, isto pode fazer com que a vítima do crime se sinta culpada ou envergonhada, mesmo não tendo razões para isso.
As pessoas podem culpar a vítima de forma inconsciente como um meio de explicarem porque é que o incidente aconteceu.